quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A IMPORTÂNCIA DA LITURGIA NA IGREJA





 
“Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus!" (Mt 4,4)

Nós, cristãos, herdamos da tradição judaica o costume de ler e orar a Palavra de Deus. O próprio Jesus, no Templo, desde pequeno, já ensinava a Palavra de Deus (Lc 2,41-52); e nas sinagogas, aos sábados, rezava salmos e lia trechos da Sagrada Escritura, que apontavam a chegada do Reino de Deus (Lc 4,15-22).


Quando reunidos em comunidade, os primeiros cristãos lembravam as palavras e os gestos de Jesus, sua morte e ressurreição, a vinda do Espírito Santo; davam graças a Deus, oravam e se alegravam. A cada reunião tentavam compreender tudo aquilo que havia acontecido com Jesus, e os sinais que estavam acontecendo com eles no dia-a-dia da missão.

Na história da liturgia da Igreja Romana, em parte do 2o milênio, as Sagradas Escrituras deixaram de ser lidas nas celebrações litúrgicas. O povo não tinha mais acesso à Palavra de Deus, sendo evangelizado através dos “sermões” e das lendas religiosas acerca da vida dos santos e do Santíssimo Sacramento. A recitação do rosário e a prática das novenas mantiveram a fé cristã viva por vários séculos.

Foi o Concílio Vaticano II, através da Constituição Conciliar “Sacrosanctum Concilium” sobre a Sagrada Liturgia, que devolveu à Santa Missa e às outras celebrações litúrgicas o lugar privilegiado da Palavra de Deus: “Na celebração litúrgica é máxima a importância da Sagrada Escritura. Pois dela são lidas as lições e explicadas na homilia e cantam-se os salmos. É de sua inspiração que surgiram as preces, orações e hinos litúrgicos...; é necessário que se promova aquele suave e vivo afeto pela Sagrada Escritura...” (SC 24).


Hoje, dois mil anos depois, também nós, discípulos, continuamos nos reunindo em comunidade, ouvindo as palavras de Jesus, tentando compreender, com a ajuda do Espírito Santo, o que está acontecendo e buscando uma palavra de vida para nós mesmos, para a comunidade, para a sociedade e para o mundo. Na verdade, Deus continua nos falando hoje.

A Liturgia da Palavra é semelhante a um diálogo entre duas pessoas: Deus e seu povo, Jesus e sua comunidade reunida no Espírito Santo. É o diálogo da Aliança (Êx 19 – 24). Nela, há momentos em que ouvimos a fala do Senhor e há momentos em que a comunidade aclama ou responde àquilo que ouviu. Isso requer de nossa parte: atitude de fé, de acolhida, de profunda escuta; requer a disposição para entrar em diálogo e comunhão com o Deus da Aliança.


É preciso redescobrir a Liturgia da Palavra como um diálogo vivo e atual de Jesus com os seus discípulos, um diálogo amoroso, através do qual o Senhor vem alimentar nossa esperança, podar nossos vícios, aprofundar nossa fé e colocar a comunidade com mais firmeza no caminho do Reino.

Sugestões celebrativas:

• A Liturgia da Palavra não é apenas um momento de se ouvir falar de Jesus ou de acompanhar leituras que falam Dele; é o próprio Jesus que, estando no meio de nós, fala à comunidade reunida. Sua Palavra tem a força de nos curar, converter e transformar. Por isso, nas comunidades despertem as pessoas ao costume de ouvir as leituras com amorosa atenção, se possível, sobretudo o Evangelho, não acompanhando sua leitura nos folhetos, pois “quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja, é Cristo que nos fala” (SC 07).

• Criem nas comunidades o ministério dos leitores e salmistas. Não peguem leitores de improviso. Promovam constantemente a formação bíblica, litúrgica, espiritual e técnica dos leitores e salmistas. Invistam nos sistemas de som das Igrejas e no uso adequado de microfones e instrumentos musicais.

• “A Igreja sempre venerou as escrituras divinas, como venerou o próprio Corpo do Senhor, porque, de fato, principalmente na sagrada liturgia, não cessa de tomar e entregar aos fiéis o pão da vida, da mesa tanto da Palavra de Deus como do Corpo de Cristo” (DV 21). Haja, em toda comunidade, uma mesa da Palavra (ambão) de onde serão feitas as leituras bíblicas e cantado o salmo responsorial e, se oportuno, feita a homilia e proferida as preces dos fiéis.